terça-feira, 25 de maio de 2010

O homem cordial de Raizes do Brasil.

A teoria do "Homem cordial" exige uma retrospectiva de toda a referida obra de Sérgio Buarque de Holanda e, uma vez compreendida, nos permite vislumbrar caminhos para o último capítulo: "nossa revolução". Não quero impor a tese do autor como verdadeira ou única forma de análise da história nacional, mas acredito que, mesmo quando discordamos, para entendermos o "homem cordial" se faz necessário conjugar todos os capítulos de “Raízes do Brasil”, sob pena de incorrermos em falácias como a que ouvi outro dia do quase sempre falacioso Analdo Jabor.

A fácil integração do espírito preguiçoso e aventureiro do português colonizador, descrita nos primeiros capítulos, proporcionou uma ocupação de feitoria muito comum à essência da burguesia brasileira atual (e que é copiada pela “classe média”), a qual sonha com uma vida “plena” em algum país da Europa. Burguesia essa, filha da civilização rural do período colonial que deu origem ao que o autor denominou de “facções”, que dominam o cenário político e não suportam a inata nobreza do índio (nada cordial aos seus olhos).

Os frutos dessas famílias patriarcais são justamente aqueles que valorizam o talento como fim em sim mesmo. Intelectuais e profissionais liberais possuidores de uma inteligência “decorativa” cuja única função é a de diferenciação dos demais que não a possuem. Esse é o sistema patriarcal, a erva daninha da “pujança dos domínios rurais” que chafurda o público no privado.

E assim, dentro de um Estado forjado por todas as circunstâncias históricas, surge a figura do “homem cordial”. Um verdadeiro paradoxo, sendo, ao mesmo tempo, um homem forjado (refém da estrutura estabelecida, que o impele a fugir de si mesmo e a viver o dogma imposto da legalidade abstrata) e um homem liberto do rigor dos ritos, que são humanizados. Não é bom nem ruim. É afetivamente dialético. Sérgio Buarque não nos da uma solução, antes joga a bomba no colo, o bode na sala e o gato no telhado.

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