segunda-feira, 3 de outubro de 2011

QUASE METAFÍSICA DE UM MORNO RADICALIZANTE


Navegando na tormenta de todas as minhas reflexões,
Com a bússola apontada como norte a minha experiência de vida,
Cuidei pescar alguma explicação racional da realidade.
Mas pra isso, precisaria transcendê-la.
E como transcendê-la, se não consigo separar o real de dentro pra fora
E o real de fora pra dentro?
“Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou? Ser o que penso? Mas penso ser tanta coisa!”
No entanto, pelo menos por enquanto, me contentei com as parciais conclusões que tirei.

Sempre fui um morno convicto!
Isto é, busquei conduzir todas as minhas ações pelo “aclamado caminho do meio”.
Pela zona de conforto,
Ponderei as desavenças,
Conformei-me com os resultados aquém,
Contive minhas indignações,
Adaptei-me até quando não precisava...
Até quase, temerariamente, me perder do que sou.
Percebo hoje que desenvolvi uma esdrúxula e não menos, incoerente, divisão dos níveis de minha personalidade.
Aos olhos da psicanálise, poderiam me diagnosticar como um ser de um “ID” e dois “superegos”.
Justamente quando tinha de aliar, sufoquei meu “ego”.

Fruto, talvez, das emoções que atualmente mais fácil brotam,
Chego a (quase) me revoltar com o que obtive sendo apaziguador e contido.
Quase, claro, porque todas as mudanças são graduais.

Não me quero hedonista e intransigente.
Acredito, piamente, que este também não seja o caminho.
E é justamente no que acredito, realmente, que preciso me fincar,
Pois quando abandonamos nossas convicções, abandonamos a nós mesmos.

Impulsionado por outras “provocações filosóficas”,
Percebi que a radicalidade é a virtude capaz de me tirar do insípido meio.
Concordei: “Radical é aquele – como lembra a origem etimológica – que se firma nas raízes, isto é, que não tem convicções superficiais, meramente epidérmicas; radical é alguém que procura solidez nas posturas e decisões tomadas, não repousando na indefinição dissimulada e nas certezas medíocres”.
E como bem ressalva o Filósofo, os extremos não precisam ser buscados; limites são necessários; mas é essencial que não nos restrinjamos ao “confortável e letárgico centro”.

Muitos porquês ainda rondam minha mente.
Falhei ao transcender as realidades que me atingem.
Porém, encontrei um novo e ao mesmo tempo, antigo, sentido;
Minhas convicções!
Por elas, endurecerei sempre, mas sem perder a ternura, jamais.

3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Texto muito bem escrito! Porém (e sempre tem um) discordo de você que ao abandonarmos velhas convicções deixamos de ser nós mesmos. Como negar a mudança como um elemento permanente na experiência existencial? Como ser tão convicto diante de tantos caminhos? Você sempre soube o seu caminho (e até por isso nunca errou de destino), mas (na minha nunca humilde opinião) experimentar novas experiências pode ser muito revelador. Infelizmente não há razão sofista que tire do caminho do indivíduos a dor, o erro e a decepção. São coisas como essas que nos tornam pessoas de verdade e quando esquecemos disso é sempre possível pegar emprestado um pouco de Álvaro de Campos, como esse que escolhi para terminar esse longo comentário!
    "Não sei se a vida é pouco ou demais para mim.
    Não sei se sinto demais ou de menos.
    Seja como for a vida, de tão interessante que é a todos os momentos,
    A vida chega a doer, a enjoar, a cotar, a roçar, a ranger,
    A dar vontade de dar pulos, de ficar no chão,
    De sair para fora de todas as casas, de todas as lógicas, de todas as sacadas
    E ir ser selvagem entre árvores e esquecimentos". ("Passagem das Horas")
    Não se esqueça do chamado selvagem, maninho!

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  3. Concordo com você, até pq enxergamos o mesmo desenho...só que em cores diferentes.
    Mudamos o tempo inteiro, sim, porém (como sempre tem um), existem vários fatores desencadeadores de mudanças, que, de grosso modo, poderiam ser chamados de legítimos e ilegítimos. Sem se aprofundar na problemática da legitimidade, as convicções abandonadas por mudanças ilegítimas, têm sim, o condão de afastar seu "eu", por mais mutante que você seja - até pq, mesmo sob as mais diferentes direções dos ventos e por mais lugar comum que pareça, mantemos uma essência - essa sim, praticamete indelével.
    Não se trata de ter convicção de tudo, mas agir com convicção, naquilo que vc tem convicção. Todas as experiências são válidas - mais que isso - são úteis e necessárias para a formação e engrandecimento do homem - jamais me fecharei à elas.
    Talvez não tenha conseguido me expressar, mas, quando disse que possuia dois "superegos", indiquei a necessidade de dar vazão ao "chamado selvagem", entretanto, não através de um "ID" hercúleo e impetuoso, mas sim, pela figura de um "ego" atuante, já que, igualmente, não me quero hedonista e intransigente.
    Nesse aspecto, faltava-me equilíbrio, por isso mencionei "exdrúxula e incoerente divisão..." De qualquer forma, obrigado pelo comentário, seu ponto de vista sempre enriquece qualquer discussão.

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