quarta-feira, 21 de outubro de 2009

AS VILAS DE NOEIS
















É lamentável ver como a mídia trata assuntos de profunda complexidade com a análise simplista que lhe é tão peculiar. Para os jornais, todos os problemas do Rio Janeiro têm origem exclusiva na famigerada “violência”, como se ela fosse uma mal em sí mesma.

Um helicóptero em chamas caiu do morro matando três policiais. O que o helicóptero estava fazendo no morro? O que os traficantes estavam fazendo morro? O que a população civil inocente está fazendo no morro? Ninguém explica.

É bem provável que a manhã do último Sábado não tenha sido muito diferente das anteriores para os moradores do Morro dos Macacos em Vila Isabel. Acordar ao som de um Fuzil não deve nada agradável, mas vai se fazer o quê? É a tal da “Violência”. Mas dessa vez não foi igual. Dessa vez filmaram um helicóptero incandescente na cidade escolhida para as Olimpíadas 2016, cara! Sabe lá o que é isso?

Assistiremos agora a mais evidente legitimação de vingança do Estado. Eles vão tomar o morro, matar dezenas e ir embora. É assim que o Estado Brasileiro cuida de seu povo.

O homem sempre vai se organizar. No morro ou no asfalto, estando certo ou não, não importa...alguém vai sempre bancar o “Paizão”. A história é conhecida: Os ricos querem as praias lindas para seu Cooper matinal, os teatros para suas comédias alienantes, os cinemas para seus filmes burgueses, as boates para suas noites de "chapação" e expulsam os pobres para se aglomerarem nos morros sem água encanada ou luz elétrica. O mercado local se desenvolve e isso incomoda (claro que é droga!!! Esperava o que? Templos de consumo de artigos de luxo ou lojas revendedoras da Ferrari?).

Termino com um trecho de uma das maiores obras do maior sambista de todos os tempos, Noel Rosa, intitulada “Feitiço da Vila”. É um relato do bairro nos anos 30. Como permitiram tanta mudança? Claro, com “Violência”.

Quem nasce pra sambar
Chora pra mamar
Em ritmo de samba
Eu já saí de casa olhando a lua
E até hoje estou na rua


A zona mais tranqüila
É a nossa vila,
O berço dos folgados
Não há um cadeado no portão
Pois lá na vila
Não tem ladrão.

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