terça-feira, 1 de setembro de 2009

ILEGAL, IMORAL OU ENGORDA.


Francisco acorda, como todos os dias, de forma automática, antes mesmo do Sol nascer. Desperta sua mulher, filhos, irmãos, mãe e alguns amigos que, seguindo o exemplo, vão chamar os seus. Todos dividem um exíguo espaço onde fazem suas refeições, necessidades fisiológicas e descanso físico. É preciso estar desperto antes da chamada oficial para contagem e início dos trabalhos diários, pois, do contrário, podem ser severamente punidos pelos enviados do proprietário das terras onde trabalham.

Sim, Francisco foi um escravo (aliás, esse nome fora dado por seu dono em homenagem a um santo cultuado na região. Seu nome verdadeiro era Upindi) e essa foi sua rotina matinal até o dia de sua morte.

A ilustração do ficto exemplo acima, não tem, como você já deve estar achando, o objetivo de discutir o racismo ou escravidão, ambos infelizmente ainda tão comuns no país, mas serve para refletir sobre alguns dogmas culturais que carecem de revisão.

Dia desses, ouvindo um disco do Roberto Carlos chamado ”Pra Sempre” (pela Internet, é evidente), enquanto ouvia a música que intitula este despretensioso texto, me peguei indagando junto com o Rei: “será que tudo que eu gosto é ilegal, é imoral ou engorda?” Será que tenho pré-disposição para coisas que são proibidas pelo bom senso social?

Ao contrário do que muitos acreditam, as sociedades ocidentais se pautam não por preceitos morais ou éticos, mas por uma invenção humana chamada “lei”, o que denomina os famigerados “Estados democráticos de direito”.

Logo no primeiro ano do curso de Direito, teima-se em ensinar que “onde está a sociedade, está o direito” (ubi societas, ibi jus), mas basta uma análise nada profunda do sistema legislativo e dos sujeitos que possuem competência para a elaboração das normas para concluir que, na verdade, a lei é o produto que reflete os interesses nada escusos de empresários lobistas, invalidando totalmente o referido brocardo latino.

O trabalho escravo é algo tão repugnante que, atualmente, é proibido pela Constituição Federal, pela Consolidação das Leis Trabalhistas e pelo Código Penal. Contudo, no Brasil colonial, o Código Comercial da época considerava o escravo um bem semovente (como o gado é considerado atualmente) e, como tal, passível de comercialização.

Se hoje podemos falar em jornada de trabalho e salário mínimo (anos luz de ser o aceitável), devemos lembrar que um dia toda a economia nacional foi sustentada pela exploração inumana dos negros africanos. O que outrora era algo natural, hoje é ilegal. O que era algo totalmente aceitável, não apenas por “famílias de nome” (como se alguma não tivesse), mas também pela igreja Católica, hoje é propositadamente ignorado, (muito por conta da “Obamania”).

E é assim que se desenvolve e se transforma a ética nas sociedades intelectualmente pobres, como a burguesa, onde tudo que é legal tem o condão de ser certo. São dogmas estabelecidos em nome da ordem e em detrimento do respeito à diferença.

Não poderei, embora gostaria muito, dar um final feliz para a história de Unpindi e sua família, mas tenho certeza de que, se fosse um personagem real e estivesse vivo hoje, faria coro comigo - ÀS FAVAS COM A ÉTICA !!!



ESSE TRINCOU !

Vai aí a indicação de um filmaço, ou melhor, de uma vida retratada na tela. “Na natureza selvagem” é um filme obrigatório para quem não se conforma com a vida previsível da cidade grande e busca encontrar o significado da vida na obra da natureza. Gostaria de retratar mais minhas impressões do filme, mas estragaria a emoção de quem quer assisti-lo. Basta dizer que se trata de uma história real, com direção e roteiro de Sean Pean e trilha sonora de Eddie Vedder (Pearl Jam). Tá bom ou quer mais? Quer? Então assista!!!



DICA 2

O canal TV Brasil está transmitindo (de 31 a 05 de setembro 20:30h) uma série chamada “Era das Utopias”. Uma reflexão madura sobre os últimos 20 anos da humanidade. É simplesmente fantástico. Depoimentos fabulosos de gente muito competente e sensível. Deve ter no youtube !

Direção – Silvio Tendler.



Poesia Visceral.


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Paulo Leminski

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